A liberdade e a privacidade humanas parecem estar com os dias contados. Uma empresa privada fechou acordos lucrativos com as autoridades locais do Reino Unido para reunir, secretamente, informações dos cidadãos usadas em nome do controle da pandemia.
Esses dados são retirados dos registros dos conselhos municipais e incluem níveis da dívida familiar, condições de vida, renda, ausências escolares e exclusões.
Assim, eles alimentam o sistema Covid OneView, que cria um perfil e uma análise de risco para residências e indivíduos considerados vulneráveis, segundo relatou neste sábado (28) o jornal britânico Daily Mail.
O jornal conta ter descoberto que o Covid OneView pode conter dados completos sobre a privacidade dos cidadãos. São eles:
- Sexo infiel e inseguro, saúde emocional e bem-estar, problemas de sono e animais de estimação perigosos.
- Problemas de controle da raiva e comportamento socialmente inaceitável.
- Detalhes financeiros, incluindo dívidas, baixa renda e impostos em atraso.
- Frequência escolar, baixo comprometimento escolar e merenda escolar gratuita.
As prefeituras afirmam que o objetivo é ajudar a identificar aqueles que correm maior risco de contrair o coronavírus.
Mas, seria apenas isso?
Um conselho mostrou em uma videoconferência, no mês passado, que essas informações poderiam ser usadas para prever os mais aptos a quebrar as regras de isolamento.
Alguns parlamentares e ativistas britânicos criticam a falta transparência do sistema e questionam por que tanta informação é necessária sobre a vida dos moradores.
Jake Hurfurt, do Big Brother Watch, um grupo que milita em prol da privacidade, afirma:
“Isso sublinha a mudança em direção à vigilância em massa e coleta de dados que foi desencadeada pela pandemia.”
Para ele, “é escandaloso que os conselhos estejam usando grandes quantidades de informações pessoais e algoritmos experimentais para atribuir às pessoas ‘pontuações de risco’ e previsões a portas fechadas. As pessoas têm o direito de saber como seus dados são usados e como as decisões sobre suas vidas são tomadas.”
O sistema é de propriedade da empresa Xantura, que diz ter trabalhado para conselhos por 12 anos.
Dessa forma, “milhões de pedaços de dados tornaram seus algoritmos incrivelmente precisos”, diz a empresa, que cobra dos clientes cerca de US$ 24 mil para acessar o banco de dados.
O Chartered Institute of Public Finance and Accountancy, um parceiro da Xantura no esquema, disse que o OneView pretendia construir a Operação Shield, que identificou 1,5 milhão de indivíduos em alto risco de contrair covid.
Enquanto a Operação Shield foi limitada àqueles com alta necessidade clínica, o OneView visa ajudar os conselhos a identificar aqueles mais vulneráveis ao impacto social e econômico da pandemia, justifica.
Isso inclui arquivos sobre atrasos no aluguel de casas, assistência social para crianças e adultos e registros escolares. Eles são usados para detectar os ‘fatores de risco da Covid’, que incluem dívidas, violência doméstica, saúde mental e baixa renda.
A London Councils, associação dos 32 distritos de Londres, disse recentemente o uso do sistema de ‘dados, análise preditiva e inteligência artificial’ ajudou as autoridades locais a identificar aqueles que precisam de apoio.
Em outubro, o Daily Mail revelou que milhões de pessoas estavam sendo monitoradas para checar o distanciamento social.
A ação fazia parte de um projeto, “apoiado secretamente pelo governo e implementado em toda a Grã-Bretanha”.
Diz o jornal que “pelo menos 363 câmeras originalmente instaladas para monitorar o trânsito foram trocadas, sem consulta pública, para espionar os pedestres”.
REAÇÕES
O parlamentar conservador Steve Baker questiona o OneView:
“É realmente assim que queremos viver, sob o olhar de máquinas que decidem a quais serviços públicos teremos direito? É claro que há benefícios potenciais em se obter ajuda para as pessoas que dela precisam, mas precisamos ter certeza de como essa ajuda está sendo decidida.”
Jamie Stone, porta-voz digital do Liberal Democrata, disse:
“É vital que em todos os níveis de governo haja transparência absoluta sobre quais dados estão sendo coletados e como estão sendo usados, para garantir que os dados pessoais das pessoas sejam protegidos e sua privacidade respeitada.”
Bem-vindos ao novo normal, que já transforma o mundo em um gigantesco big brother!