O que é fake news o que é verdade, o que é meme (aquelas brincadeiras da internet)? Está tudo junto e misturado. A guerra da desinformação nunca foi tão ampla, escancarada, e a manipulação da informação, também.
Os embates entre a notícia e a narrativa são diários no mundo todo, mas o Brasil se superou esta semana nas redes sociais com a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia.
A visita tinha sido planejada com antecedência, mas coincidiu com uma suposta invasão da Rússia à Ucrânia. Bolsonaro ainda voava, quando o presidente russo Vladimir Putin anunciou que estava retirando suas tropas das fronteiras.
Começaram as brincadeiras na internet com internautas postando que bastou Bolsonaro chegar ao país para terminar a guerra.
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A postagem do ex-ministro Ricardo Salles brincando com o acordo de paz
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Fizeram colagens (algumas com logotipos de mídias tradicionais), vídeos com discursos de Putín, legendados em português, anunciando “o acordo de paz” levado pelo chefe do governo brasileiro. Foi uma grande zueira.
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CNN desmente o meme |
O que aconteceu? Os principais veículos de imprensa levaram a sério, acionaram suas agências de checagem para “desmentir a notícia” e fizeram várias matérias “verdadeiras” acusando os bolsonaristas de estarem divulgando fake news.
Os memes se multiplicaram e a trolagem virou um deboche divertido nas redes.
Por outro lado, mostrou que os jornalistas profissionais não checam mais as informações online e não dispõem de fontes para esclarecer de imediato os fatos. O caminho mais fácil é a narrativa, que geralmente acaba destruída.
Se tivessem visto ao menos o perfil no Twitter do presidente, saberiam que ele ainda estava no avião quando o governo russo comunicou a retirada das tropas. Como poderia ter costurado o acordo?
O fato é que a mídia está cada dia mais distante do seu papel de informar e sem credibilidade.
E não é nada fácil para mim – uma jornalista que passou quase 30 anos dentro de algumas das principais redações do país e conhece bem os bastidores da notícia – ver colegas se expondo ao ridículo diariamente, seja por meio de textos, opiniões ou de ideologia.
SEM CÃES DE GUARDA
“Os jornalistas não são mais os cães de guarda – em vez disso, eles pegam informações de fontes obviamente conflitantes e tentam convencer o público a acreditar nesse ponto de vista específico. Outras informações que estão em conflito são censuradas ou desmascaradas”, disse a jornalista investigativa americana Sharyl Attkisson em uma entrevista a Jan Jekielek, editor sênior do Epoch Times.
Ela afirma que até 2016 tínhamos uma certa liberdade de ler e opinar na internet. Mas, agora tudo o que você vê ou ouve online foi cooptado para servir a uma agenda maior.
A mudança, segundo ela, se deve à infiltração de propagandistas na mídia que, junto com outros grandes players, como as gigantes de tecnologia e o governo, passaram a controlar as informações.
Nessa onda, também surgiu a verificação de fatos, termo até então desconhecido, mas que se tornou popular.
Para Attkisson, as tais agências de checagem são apenas um braço da campanha global para controlar o que você vê online e, portanto, o que você pensa e como percebe a realidade. Mas, tudo é uma armadilha. Foram criadas com o objetivo de distribuir narrativas e propaganda”, afirmou.
UM SÓ LADO
É claro que sempre existiram esforços para “controlar” o que a mídia poderia publicar ou não por interesses políticos ou econômicos.
A diferença é que antes os repórteres, incentivados por seus próprios editores, eram mais críticos e sempre buscavam várias fontes para uma mesma notícia, além de dar o outro outro lado da história, cabendo ao leitor formar sua própria opinião.
Mas, o ponto crucial da verificação dos fatos é que com uma notícia de mão única (apenas um ângulo e, muitas vezes, distorcido) é mais difícil se chegar à verdade.
Isso ocorre também porque os tais propagandistas estão dentro das redações, como observa a jornalista americana.
“Não apenas os convidamos para influenciar o que relatamos, mas os contratamos, não apenas como especialistas e analistas, mas também como repórteres”, diz ela.
LINGUAGEM PRÓPRIA
Nunca se ouviu tanto falar em teoria da conspiração. Mas, qual a origem da fama repentina do termo?
Segundo Attkisson, isso também é intencional e o próprio termo foi criado pela CIA como resposta às teorias sobre o assassinato do presidente John Kennedy.
“Foi mostrado em documentos que os agentes foram instruídos que falassem aos repórteres sobre esses assuntos como teorias da conspiração. Isso foi projetado para arrancar essa pequena parte do seu cérebro que diz: “bem, essa coisa não é verdade”.
Quando Attkisson ouve o termo, no entanto, ela pensa que a informação pode ser verdadeira. “Se alguém está tentando desmascará-lo, geralmente significa que há um interesse poderoso por trás e isso me faz querer procurar mais informações.”
Não está sendo nada fácil para a humanidade transitar nesse mar de informações manipuladas ou desencontradas.
Mas, como saber o que é verdadeiro ou falso?
Use o bom senso e o raciocínio lógico, principalmente ao ouvir uma gritaria generalizada da mídia sobre determinados assuntos, para tentar conhecer a verdade, separando o joio do trigo.
Hoje cada um é o seu próprio repórter!