MURAL DAS LAMENTAÇÕES

  O Brasil está se tornando, dia após dia, um país de frustrações, de desilusão, de descrédito, do deboche – e isso pode ser aplicado em todas as instâncias. A postura do Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira foi mais um duro golpe em qualquer perspectiva de se acabar com a impunidade e a corrupção ou ao menos coibi-las. O ministro Celso de Mello que encerrou o seu voto com a aceitação dos embargos infringentes no julgamento do mensalão, garantindo uma maioria de seis votos pela retomada do julgamento de 12 réus nos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, provocou indignação nacional, embora estivesse agindo dentro da lei. Ele também deu a chance para alguns condenados, como José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil, de escaparem do regime fechado de prisão. Além de protelar mais ainda a resolução de um processo que já se arrastou mais do que devia no STF.
 Muita gente passou o dia acompanhando o pronunciamento do ministro, que durou duas horas, e no final houve um sentimento coletivo de desencanto e de vergonha. Mas o que aconteceu hoje no Brasil não tem nada de inédito, não causa espanto e era totalmente previsto. Celso de Mello já havia antecipado desde a semana passada o rumo de sua decisão o que, aliás, foi exaustivamente publicado pela mídia.
  Por que esse tamanho desencanto agora se nós já sabemos e sentimos duramente na pele que não podemos confiar na Justiça, até mesmo para resolver os problemas mais simples do nosso cotidiano? Por que tanto espanto se as leis e a indústria dos recursos foram feitas para entupir os tribunais e favorecer os poderosos? Isso acontece aqui diariamente, afeta nossas vidas, relacionamentos, empresas, empregos, famílias. E a impunidade percorre, com maestria, todos os poderes. A Justiça nacional enquanto instituição é uma carroça velha e emperrada há muito tempo. Aliás, isso parece fazer parte das nossas raízes. Então, por que tamanha ressaca cívica diante desses embargos infringentes? Alguém, em sã consciência, achava que eles não iriam encontrar uma brecha jurídica para ganhar tempo?  
  Claro que todos têm o direito de “desabafar” e hoje as mídias sociais viraram um grande mural de lamentações. Muitos manifestaram o seu luto e a indignação por meio de fotos, frases, compartilhamentos. Por outro lado, se tudo isso está acontecendo é porque nós mesmos permitimos. Será que, se as multidões tivessem se reunido em manifestações pacíficas, às vésperas do desfecho do julgamento do mensalão, o resultado teria sido realmente este? Hoje não era um ótimo dia de mobilização geral e de consciência política, praticadas não apenas nas redes sociais? O próprio STF já esperava por isso a ponto de ter reforçado a segurança. Mas os protestos foram pequenos diante da grande indignação manifestada.
 Por que a voz das ruas foi apagada tão facilmente de nossa memória, dando margem a manobras com a legitimidade da lei para perpetuar a impunidade? Motivados pelos jovens, os brasileiros viveram momentos inesquecíveis de protestos em junho e o governo tremeu nas bases, ficou acuado, votou emendas, abaixou tarifas de ônibus… A reação foi imediata. Essa oportunidade nos foi dada. Sim, porque o “grito das massas” -e não de pequenos grupos de vândalos – é uma poderosa arma contra os corruptos, aliás, a única que parece funcionar neste país. Mas a oportunidade também acabou perdida e a preciosa lição, não assimilada. Consciência política também é uma conquista.
 O gigante continua adormecido e os políticos estão cada vez mais acordados. Este, sim, é o verdadeiro luto verde e amarelo. Que pena!    


LUA E VÊNUS: ENCONTRO PODEROSO

  Havia um quadro muito especial no céu neste final de domingo: a conjunção de Vênus com a lua crescente, que começou ao entardecer e se estendeu até o início da noite. O fenômeno astrológico pôde ser observado a olho nu em várias cidades do mundo e do Brasil, inclusive em São Paulo, que teve um dia lindo, de céu claro e muito azul. Esse “encontro” virou o assunto predileto nas mídias sociais. E eu que estava caminhando pelas ruas do bairro, sem ter planejado nada, pude acompanhar todo o processo, do início ao fim. Começo a semana revigorada, guardando na lembrança este flash mágico! 

HOTÉIS PARA SONHAR


Viagens de sonhos sempre pedem hospedagem à altura. A
seguir, cinco hotéis ao redor do mundo que fazem toda a diferença e dão um
toque de classe ao seu roteiro. Cada um deles têm personalidade, geografia e
arquitetura próprias. Há uns repletos de histórias, e que já viraram até
cenário de best seller, outros exóticos e outros ainda totalmente modernos. Embarque
nessa top list!





FOUR SEASONS BÓSFORO,
ISTAMBUL
– Desnecessário dizer que tem uma das melhores vistas da mais
cosmopolita cidade da Turquia: ele ocupa um palácio otomano do século 19, bem
em frente ao Bósforo, que divide a Europa e a Ásia. Com atendimento impecável,
tem restaurantes, bares e cafés, que oferecem culinária típica e internacional,
além de um spa cinco estrelas, onde você pode conhecer o verdadeiro banho
turco. Fotografado de todos os ângulos por aqueles que fazem os passeios de
barco pelo estreito, é considerado um dos mais tops do país, seja pelo serviço
super diferenciado, pelas instalações ou pela própria localização, por si só um
cartão-postal. Ficar sentado em uma de suas varandas ou restaurantes,
assistindo ao pôr do sol de Istambul sempre será uma experiência única porque
esse cenário traduz perfeitamente a magia da cidade. www.fourseasons.com/bosphorus


ME LONDON, INGLATERRA – É um hotel
lifestyle, moderno, repleto de design e o mais recente da marca ME by Meliá,
que foi aberto há apenas seis meses e já concorre a prêmios internacionais. Fica
na Marconi House, a casa londrina original da rádio BBC. O perfil de seus
hóspedes? Gente mais cult e fashion. São 157 apartamentos, incluindo 16 suítes
e a super luxuosa ME, uma penthouse de dois pisos na cobertura do edifício. A
gastronomia ganhou espaço privilegiado: há o bar Radio, na cobertura, com uma
vista da cidade de perder o fôlego, o STK (steakhouse), o Cucina Asellina, de
comida italiana, e o Marconi Lounge, aberto o dia inteiro.
www.MELondonUK.com

 


PALAIS NAMASKAR,
MARRAKESH
–  Esse resort localizado
em uma das cidades mais famosas do Marrocos, conseguiu unir o lúdico ao luxo. É
rodeado por 50 mil metros quadrados de jardins de inspiração balinesa, com
cascatas e lagos. Além disso, foi totalmente construído seguindo orientações do
feng shui e seu design mistura bem elementos orientais à tecnologia
contemporânea, com toques mouriscos e andaluzes. Oferece 41 suítes, além de
vilas e palácios. Detalhe: o hotel coloca à disposição dos hóspedes um jato
particular, decorado no mesmo estilo, que faz o percurso até Casablanca em
apenas 30 minutos. Vida de marajá não tem preço! www.palaisnamaskar.com

 

HOTEL BRUNELLESCHI,
ITÁLIA
– Que tal se sentir um personagem de Inferno, o mais novo livro de Dan Brown? Basta passar alguns dias
nesse hotel, no centro histórico de Florença, localizado a poucos passos de
algumas das mais importantes atrações da cidade. O hotel, já citado pelo autor
best seller em O Código da Vinci, novamente
é cenário de parte da trama. De carona no livro, há até um tour guiado de
quatro horas no caminho percorrido pelos principais personagens, como o Palazzo
della Signoria, Basílica de Santa Maria Del Fiori e a Casa e Igreja de Dante.
Preste atenção na torre semicircular bizantina, do século 6, onde ficam a Tower
Suíte, uma igreja medieval e seus dois restaurantes. www.brunelleschihotelflorence.com

ST. REGIS BAL
HARBOUR, MIAMI
– É o mais novo cinco estrelas desse tranquilo balneário,
que fica a apenas 15 minutos de South Beach. Esse cinco estrelas está instalado bem em frente ao
elegante shopping Bal Harbour, que abriga algumas das marcas mais estreladas do
planeta –basta atravessar a rua e encontrar lojas da Louis Vuitton, Chanel,
Cartier… só para citar algumas. Construído em estilo futurista, é totalmente
hi-tech –tudo ali é controlado por tablets, até mesmo a iluminação do espaçoso
closet. Há espelhos e cristais por toda a parte, além de praia particular, spa
com tratamentos dos deuses e um ótimo restaurante de cozinha internacional.
Seus apartamentos e suítes têm varandas gigantes de frente para o mar que nos
fazem esquecer do mundo. www.stregisbalharbour.com
 


 

DIANA ESTÁ DE VOLTA!

POR SIMONE
GALIB

O filme
Diana, que estreia no próximo dia 5, no Reino Unido e dia 25 de outubro aqui no
Brasil, já vem cercado de polêmica –e muita curiosidade. Nem poderia ser
diferente. Afinal, tudo o que diz respeito à princesa de Gales sempre foi
notícia e mobilizou opiniões mundo afora. Até hoje, a trajetória de Diana
continua nítida em nossa lembrança. Suas fotos surgem com frequência em revistas internacionais e diariamente nas mídias
sociais –ela é uma das personagens mais postadas no Facebook, especialmente nas
páginas de seus filhos, Harry e William e agora até mesmo na de seu neto, o
pequeno príncipe George, com direito a milhões de likes. A estrela de Diana continua brilhando!

 Dirigido pelo alemão Oliver Hirschbiegel (de A Queda e As Últimas Horas de Hitler), o filme conta os dois últimos anos na
vida de Lady Dy, destacando sua luta pessoal contra as minas terrestres na
África, o assédio ininterrupto da imprensa e o romance com o cirurgião Hasnat
Khan, de origem paquistanesa, e considerado por aqueles que conviviam com o
casal como o grande amor de Diana. Ele é interpretado por Naveen Andrews (sim,
o Sayid da série Lost). A história
também mostra o momento conturbado em que a princesa rompe com o médico e vai viver
um romance com o empresário e playboy milionário egípcio Dody Al Fayed que, aliás, estava
com ela quando o carro perdeu o controle e bateu em um túnel de Paris, no dia
31 de agosto de 1997, provocando a morte de ambos. Já são 16 anos sem Lady Di!

  

  “Essa é uma história que precisa ser contada, é uma história importante. Mas foi a coisa mais difícil que já fiz.” (Naomi Watts)


Além de revisitar um pequeno trecho da
vida de uma mulher que sempre atraiu multidões por seu charme, beleza, carisma
e muita atitude, a caracterização da atriz australiana Naomi Watts como Diana
dá um toque de classe à trama. Indicada ao Oscar de melhor atriz por sua
atuação em 21 Gramas (2004) e O Impossível (2013), Naomi não
esconde de ninguém o quanto foi difícil viver Diana no cinema: “Houve
muita hesitação da minha parte antes de eu aceitar (o papel)”, disse. “Mas
eu também sabia que os melhores papéis vêm com um risco. No final, decidi que
não poderia deixar de fazê-lo. Essa é uma história que precisa ser contada, é uma
história importante, mas foi a coisa mais difícil que eu já fiz”, afirmou.

   


              “A permissão de Diana me foi concedida.”
Recentemente, o tabloide britânico Daily Mail, publicou uma entrevista da
atriz em que ela dizia ter recebido uma permissão da princesa morta para
assumir seu papel no cinema. “Eu fiquei perguntando a mim ‘será que ela
gostaria disso? Então eu me encontrei constantemente pedindo permissão para
prosseguir. Eu me informei muito sobre Diana e sua vida, e senti uma enorme
responsabilidade em interpretar essa mulher icônica”. Watts disse ainda que
chegou a sentir como se estivesse passando bastante tempo com Diana. “Houve um
momento específico em que eu senti que a permissão dela foi concedida”, contou.

 
Para incendiar ainda mais essa fogueira, o mesmo jornal publicou uma
entrevista com o médico Hasnat Khan, que teria sido o grande amor de Diana e
virou um dos principais personagens do filme. Ele disse que o filme “errou tudo”.
O cirurgião, que nos últimos 16 anos guardou silêncio sobre os detalhes de seu
relacionamento com Diana, diz que o filme “é baseado em fofocas”, acrescentando
que o roteiro partiu “dos amigos de Diana, que falaram sobre um relacionamento
sobre o qual não sabiam muito, e de alguns parentes meus, que também não sabiam
muita coisa”.

O fato é que o trailer, com
duração de menos de dois minutos, já está circulando com força na internet. A
imprensa britânica o considerou “suave demais”. Para o jornal The Guardian, “o trailer apresenta a
princesa com uma luz de santidade, idealizada, romântica e pura”. Pelo que vi,
a caracterização de Diana por Naomi Watts está na medida certa. E torço
sinceramente para que o filme consiga mostrar a essência de uma mulher que
tinha personalidade, brilho próprio, muita elegância e que escandalizou a
realeza por quebrar protocolos, usando o seu título para fazer alguma coisa em
prol de pessoas mais humildes. Diana buscava uma felicidade que não se limitava aos palácios. Ela queria ser o
que realmente era: uma mulher inteligente e do bem. Não por acaso virou princesa com direito
a um longo reinado, agora reforçado e ainda mais eternizado pelo cinema. Que
seja sempre bem-vinda!







A NOITE EM QUE DORMI NO DESERTO…

O pôr do sol em Wadi Rum, momento único no deserto, que fica no sul da Jordânia

   O
deserto é um lugar que desperta fantasias, ocupa o imaginário coletivo,
tem sempre um quê de cenário de filme ou daquelas histórias de mil e
uma noites, especialmente para nós, que vivemos do lado de cá, longe das
tempestades de areia, da vida nômade e do silêncio, só quebrado muitas
vezes pelo vento ou pelo motor off road dos jipes que hoje substituem os
camelos para travessias repletas de adrenalina.



   Agora, imagine passar
uma noite em um local, praticamente intocado pelo tempo ou
pela mão do homem, sem ao menos ter planejado nada? Foi exatamente assim
que eu e minha amiga, Patrícia Lima -eterna companheira e cúmplice de
viagens inesquecíveis- aterrissamos em Wadi Rum, no sul da Jordânia.  Ainda por cima, era lua cheia!



   Depois de
duas horas e meia trafegando por uma bem pavimentada estrada, sob um sol escaldante
que desafiava até mesmo o ar condicionado do carro e serpenteando por terras áridas a perder de vista, chegamos a Wadi Rum, no sul do país, um local atemporal, esculpido por gigantes pedras de granito e praticamente intocado pela mão do homem.



   O impacto foi imediato: parecia que tínhamos voltado milhares de anos no tempo para percorrer outra vez alguns cenários ancestrais, até então só desbravados pelos grandes sábios da humanidade. De fato, estávamos em cenários bíblicos.
  
   Fomos recebidos no Centro de Visitantes, parada obrigatória para todos que pretendem conhecer o local, ainda hoje habitado por várias famílias de beduínos, que recebem bem quem vem de fora. Há vários acampamentos, mas todos eles mantêm regras específicas para o trânsito no local. A área é preservada e não se entra em Wadi Rum, também conhecido como Vale da Lua, aleatoriamente ou sozinho. Ainda bem!

O cenário de pedras e granitos, construído há milhares de anos pela natureza



 UMA VOLTA DAS ARÁBIAS

   O nosso guia, um senhor falante, simpático e super entrosado com os anfitriões, foi logo nos deixando bem à vontade. Depois daquela poeira da estrada, trouxe uma melancia gelada para aliviar a sede, e o calor foi rebatido com algumas xícaras de chá, exatamente como fazem os beduínos locais.


   Depois, entramos num jipe para o nosso primeiro contato com Wadi Rum, um lugar de terra vermelha e de muita imensidão. Percorremos trilhas empoeiradas, paramos em alguns lugares para ver antigos registros escritos nas pedras. Subimos e descemos encostas. Pausa para água, muitas fotos e até shopping – sim, tendas no meio do nada vendem alguns produtos típicos do deserto. Compramos duas pedras de incenso de almíscar, embaladas em charmosas latinhas, por dez euros cada!

   Conhecemos também o local que os guias turísticos da Jordânia costumam apresentar com orgulho: a casa que teria sido ocupada pelo T.E Lawrence, que ali montou seu quartel-general durante a Revolta Árabe contra os otomanos na Primeira Guerra Mundial. A história serviu de enredo para o famoso longa épico Lawerence da Árabia, de 1962, com Omar Sharif, filmado quase que totalmente em Wadi Rum. A tal casa hoje é um bloco de ruínas. Mas diante daquela paisagem com tanta história milenar, repleta de símbolos e mistérios, quem estava preocupada naquele momento com cinema?

  

Nosso guia no Centro de Visitantes de Wadi Rum, área preservada

Turistas percorrem os caminhos do deserto; ao fundo, um bebedouro para camelos
Simone Galib e Patricia Lima e as rochas ancestrais, repletas de registros

Depois de duas horas de off road, em cenários de perder o fôlego, chegou a hora de conhecer o “hotel” para passar a noite. Como esse roteiro era totalmente fora do padrão, tudo ia acontecendo em um fluxo natural, com uma surpresa atrás da outra. Lá pelas 16h, chegamos ao Meditation Bedouin Camping, o local que nosso guia havia escolhido de abrigo. Tendas rústicas nos aguardavam e dentro delas, um grupo de turistas de várias partes do mundo também já estavam se familiarizando com o local. No rosto de muitos, a expectativa: como seria passar uma noite no deserto?
  Do lado de fora, o cenário ficou ainda mais fantástico. O sol começava a se pôr, tingindo o céu, de um azul absurdo, com seus tons de laranja, que se refletiam na terra, nas gigantes pedras de granito, já vermelhas por natureza, e que ganhavam um brilho extra.
Há momentos que nos faltam palavras para expressar a magia da natureza. Este era um deles…


   

O beduíno, um dos nossos anfitriões na tenda
As tendas do Meditation Bedouin Camping, em Wadi Rum, onde os visitantes podem dormir




   Enquanto nos deliciávamos com o pôr do sol, os beduínos, nossos anfitriões naquela noite, começavam a preparar o jantar, que costuma ser cozido dentro da areia, de acordo com seus costumes. O ar já estava mais fresco. O sol se foi, mas não houve tempo para escuridão. Uma lua prateada despontou atrás das montanhas, mostrando que a noite seria muito iluminada. A areia, repentinamente, tornou-se branca e mais fria. Deixamos nossas pegadas por lá.


  Podíamos fazer o que bem queríamos: cantar, andar ou simplesmente gritar. A imensidão era tamanha que quando gritávamos, ouvíamos, depois de alguns segundos, nossa própria voz ecoando do lado oposto, como se inusitados visitantes estivessem nos saudando.
   
   O resto da noite foi só adrenalina e diversão: jantar típico servido no tapete, chá, alguns acordes da viola beduína, pequenos passos de dança, mistura de idiomas, gente simples -e muito feliz. Dormir na tenda? Nem pensar! O melhor mesmo foi pegar os colchões, colocá-los na areia, se cobrir para enfrentar os ventos da madrugada, contar as estrelas e adormecer no Vale da Lua, despertando, algumas horas depois, com a sensação de que ainda estávamos sonhando!


FESTÃO DA BASTILLE

Alexandra e Damien Loras posando no cenário da revolução francesa, montado no Sesc Pompeia

FESTÃO DA BASTILLE 

 
   A semana começou movimentada em São Paulo e très chic. Em plena segunda-feira, um dia depois da comemoração da data nacional francesa que celebra a queda da Bastilha, franceses e paulistanos também comemoram a data por aqui. O endereço do Bailinho da Bastille – um evento para 800 convidados – foi o Sesc-Pompéia e os anfitriões da festa, o cônsul geral da França, Damien Loras, e sua mulher, Alexandra mostraram que sabem, sim, fazer muito bem esse intercâmbio entre os dois países.
  A noite foi regada a champagne – Chandon, é claro-, alguns dos melhores vinhos franceses de todas as regiões da França e um finger food elegante, do Mercure. O toque gastronômico ficou por conta da Brasserie Jacquin (Erick Jacquin Eventos e Tartar & Co), pilotada pelo chef cinco estrelas Erick Jacquin -aliás, um dos mais animados da noite-, e do restaurante Eau.

 

O chef Erick Jacquin, um dos responsáveis pelo elegante cardápio da noite


 

O ex-jogador Raí, um dos participantes e parceiros da festa
 Alguns dos melhores vinhos franceses

Várias

bandas se intercalaram no palco, alternando MPB e canções clássicas da
música francesa. Nos intervalos, o deejay Tony Montana fez muita gente dançar.

 Marcas de prestígio, como Renault, Citroen, Sisley e
Fnac, entre muitas outras parceiras do evento, também marcaram presença. Para entrar totalmente no clima, muitos dos convidados usaram roupas e acessórios nas cores da França, onde predominavam o vermelho e o azul-marinho.

Entre
um champagne e outro, mais queijos deliciosos, uma das maiores diversões da noite foi o painel
de fotos com a queda da Bastilha, onde todo mundo virou personagem por
um dia da revolução francesa. Quem passou pelo Sesc? Muita gente da moda,
como os estilistas Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho, o ex-jogador de
futebol Raí, das artes, do corpo diplomático e da colônia francesa em
São Paulo, presente em praticamente todos os setores.
 
Para quem perdeu, o cônsul Damien avisa: ano que vem tem mais. A ideia,
segundo ele, é integrar na programação de eventos de São Paulo um novo
modelo de celebração que vai reunir, em julho, os maiores talentos
franceses da gastronomia, da cultura e da elegância. Ulalá!  

Tania Lumena, Simone Galib e à esq. o cônsul Damien Loras

BAILINHO À FRANCESA

por SIMONE GALIB

Alexandra e Damien Loras, cônsul geral da França em São Paulo

A tarde não poderia ter sido mais divertida.
Fui almoçar na casa da consulesa Alexandra Loras e o marido, Damien Loras,
cônsul geral da França em São Paulo. Era um petit comitê, com jornalistas e
gente da moda. Luiza Brunet também apareceu por lá. Continua bonita –e
simpática como sempre. Os anfitriões, que estão há oito meses no Brasil, querem
trazer cada vez mais a cultura francesa para cá –e vice-versa. Tanto que a bela
casa consular, no Jardim Paulistano, está ficando muito movimentada: já foi
palco de 2.700 pequenos eventos nos últimos tempos.

   Mas
a primeira grande festa à francesa vai acontecer no próximo dia 15 de julho e
espera reunir cerca de 800 convidados no Sesc-Pompéia. Trata-se do Le Bailinho
da Bastille, bastante tradicional em seu país de origem e que costuma ser
copiado pelos consulados e embaixadas mundo afora. Aqui será na segunda-feira,
um dia depois da data da independência da França, que este ano cai no domingo.
O Bailinho começa às 18h e vai até meia-noite, com direito a degustação de
vinhos e drinks, comidinhas, projeção com as ruas de Paris, deejays e até
estúdio para fotos customizadas. Cerca de 50 empresas francesas patrocinam a
festa, que terá como embaixador o ex-jogador Raí. Nada mal!

 
Ex-apresentadora de um programa de TV em Paris, onde divulgava jovens
talentos na área da música, Alexandra largou tudo para acompanhar a carreira
consular do marido no Brasil. Os dois trouxeram na bagagem o filho, Rafael, de
um ano. Já falando bem o português, embora ainda queira fazer umas aulinhas
para melhorar a gramática e aumentar o vocabulário –ela domina cinco idiomas-,
Alexandra anda muito entusiasmada com a nova vida e especialmente surpresa em
relação a São Paulo. “Eu não sabia que essa cidade tinha tanto a oferecer,
principalmente na arte, na moda, restaurantes e cultura. Por que é tão pouco
divulgada lá fora”?. Por isso, quer fazer essa ponte, aproximando os
dois países. Para ela, os brasileiros vão muito a Paris, mas são ainda minoria
em outras regiões do país, aliás, belíssimas. Vivendo em São Paulo há oito meses, a consulesa diz estar com a agenda movimentada e planeja fazer aqui eventos que vão entrar para a história da cidade. Merci!

 

A Torre Eiffel, símbolo da França, sempre presente -até na mesa

A consulesa Alexandra Loras, Simone Galib, Sonia Gonçalves, Luiza Brunet e Beto

O BRASILEIRO ACORDA E GRITA NAS RUAS

Os gastos com a Copa foram uma das principais reivindicações nas ruas do país 
Paulistanos protestam na av. Paulista, um dos símbolos da cidade
Protestos contra a Copa nas areias de Copacabana, no Rio

TSUNAMI VERDE-AMARELO

O Brasil vive um momento único, histórico. A sensação é que um tsunami, cujas ondas são pessoas, avançou sobre as principais cidades do país, na velocidade da luz, e tirou todo mundo da zona de conforto.
O mundo parou para assistir, tão perplexo quanto nós, brasileiros, as cenas que estão por toda a parte. Jovens nas ruas, invasão de palácios governamentais, manifestações que surgem em lugares inusitados e que são amplamente divulgadas, especialmente nas mídias sociais. A imprensa tradicional tropeça. O governo está absolutamente perplexo e todos dias vamos dormir com a sensação de que não há absolutamente nada previsto para o dia seguinte.
Ninguém entende nada e não sabe o que vai acontecer no próximo minuto. Nunca vi tanta gente se manifestando, desabafando em praça pública, no Facebook, Twitter. Viramos a vitrine do mundo. Todas as feridas estão expostas e agora é tempo de curar os ossos e de tirar as máscaras. A lama surge de todo lugar. Não temos mais nada a esconder, mas muito o que mostrar. Diante de tanta incerteza, uma única certeza prevalece: nada mais será como antes a partir deste junho de 2013. E, apesar das milhares de análises de especialistas das mais diversas áreas, de comparações com outros períodos da história contemporânea, dos discursos de esquerda, de direita, sabemos que este momento é único e apartidário. É a alma brasileira sendo lavada, sem pudor. O gigante real emerge do mundo virtual. Sai o velho para entrar o novo. E esse movimento tem uma força extra, inexplicável que nada nem ninguém vai conseguir deter. Os jovens quebram todos os cordões de isolamento. E nós os seguimos, mesmo sem saber ainda para onde estamos indo. Mas é um caminho sem volta!

DÓI EM TODOS NÓS


    Na noite deste domingo, vários famosos também aderiram às manifestações e se mobilizaram nas redes sociais, pedindo mudanças para o Brasil. Utilizando as hashtags “muda Brasil” e “dói em todos nós”, Carmo Dalla Vecchia, Thaila Ayala, Yasmin Brunet e Fernanda Rodrigues, entre outros, postaram no Instagram fotos suas em que aparecem com o olho roxo em referência à repórter Giuliana Vallone, da Folha de S.Paulo, que foi atingida por uma bala de borracha enquanto cobria a manifestação em São Paulo. Essas imagens fazem parte do protesto fotográfico “Dói em Todos Nós”, do fotógrafo Yuri Sardenberg.
  Eles surgem na rede à véspera da quinta manifestação em São Paulo, marcada para esta segunda, às 17h, no largo da Batata, em Pinheiros. O movimento, iniciado pelo Passe Livre, vai ganhando vulto, adesões, discussões e apoio internacional. De fato, agora o Brasil definitivamente está na vitrine do mundo. E o mais inusitado: não é pelo futebol. 

Praça Taksim: hoje o centro das manifestações em Istambul 
A praça Taksim é um dos locais mais movimentados da cidade
Haghia Sophia, um dos cartões postais da cidade

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Os bancos da praça em frente à Mesquita Azul: ponto de encontro

ISTAMBUL E SÃO PAULO: UMA INUSITADA UNIÃO







por SIMONE GALIB

  Voltei recentemente de Istambul, a mais cosmopolita cidade da Turquia, onde passei 25 dias de férias. Não havia ali nada que denunciasse qualquer movimento político, nenhum cheiro de bomba de gás lacrimogêneo no ar, a polícia estava nos quartéis, as ruas forradas de turistas do mundo inteiro, que transitavam de um lado para o outro, felizes e seguros, e os jovens curtiam futebol, cafés, baladas, compras, namoros nas praças, absolutamente tranquilos. Aliás, quase não se via polícia nas ruas onde você pode trafegar tranquilamente sem medo de que sua bolsa, sua máquina fotográfica e seu celular sejam furtados a qualquer momento. Apesar de um trânsito pesado, de carros que transitam em mão dupla pelas ruas estreitas do centro antigo, a cidade é extremamente segura, limpa e organizada. O maior assédio, se é assim que posso dizer, parte dos comerciantes ou dos vendedores que sempre nos abordam tentando vender -a um preço sempre negociável – seus artigos originalmente made in Turkey, como os tapetes e lenços de seda, aliás, maravilhosos. Não se pode parar em frente a qualquer vitrine de uma loja que automaticamente você é convidado a entrar, tomar um “thai”, o tradicional chá turco e comprar, mas tudo sempre com muita gentileza e educação. Os turcos tratam muito bem os turistas, são simpáticos e atenciosos – não importa de onde você venha. Afinal, sabem que são eles alguns dos principais responsáveis por seus empregos e pela economia em ascensão do país. Eles também demonstram amar sua cidade e aproveitam todas as áreas livres, como a orla, parques e praças para encontrar amigos e fazer piquenique com a família. Sim, é prática comum ali abrir suas cestas nos canteiros (sempre floridos e bem cuidados), nos parques e até mesmo em uma ilhota no meio da avenida para fazer churrasco. São cenas cotidianas.

Esta foi a Istambul que encontrei, que me recebeu maravilhosamente bem e que me encantou, porque é, sim, uma cidade que acolhe e tem paisagens únicas, repletas de história, de aromas, de especiarias e de sabores inusitados.  Fiz amigos, conversei com muita gente, troquei ideias, informações, impressões. Não havia ali nada que denunciasse nenhum ativismo político, depredações ao patrimônio público -ao contrário, ele é excessivamente bem preservado – rebeldia juvenil ou até mesmo insatisfação com o governo do premiê Recep Tayyp Erdogan. Mesmo com uma população predominantemente muçulmana, os jovens parecem não se submeter a costumes rígidos, quer seja no vestuário ou no comportamento. Istambul -no final do inverno e começo desta primavera- aparentemente respirava liberdade. Mas os jovens turcos estavam insatisfeitos e foram às ruas para impedir que as árvores de um parque em Taksim fossem derrubadas para a construção de um shopping center. A princípio, achei normal porque vi o quanto eles usufruem de suas belas áreas verdes. Natural defendê-las. Depois, entendi: os jovens turcos estavam sendo porta-vozes de uma população descontente com suas condições salariais, com o custo de vida, que é infinitamente menor que o nosso, e principalmente pela ameaça da implantação do conservadorismo religioso. A polícia partiu para cima com violência. O governo, pego de surpresa, evitou a negociação, mas diante da série de protestos e da repercussão internacional precisou voltar atrás. O presidente pediu desculpas. Mas os jovens não arredaram pé e o movimento começou a crescer. Em menos de um mês eu via, pelos jornais e internet, uma cidade totalmente diferente e cuja paisagem seria inconcebível para mim, porque a mudança foi rápida, radical e na velocidade da luz! 

MUDANÇA DOS VENTOS

 Se eu já estava surpresa com o que havia acontecido em Istambul, fiquei muito mais ainda com o que vi na última semana em São Paulo. Se os jovens turcos inspiraram os brasileiros? Não se pode afirmar com convicção, mas acredito que tenham jogado o fósforo: se brigavam contra a derrubada de árvores do parque, por que aqui onde temos milhões de motivos mais sérios, nada acontecia? Se em Istambul, onde o turismo faz a festa, o comércio nunca fecha e os jovens começam desde cedo a trabalhar, sem folga, e não são assassinados em assaltos, havia um nó preso na garganta e um grito de alerta por um  mundo melhor, por que aqui onde eles não conseguem trabalho, perdem amigos, pais e familiares vítimas da violência, enfrentam um péssimo transporte coletivo, uma educação deficitária, um sistema de saúde desumano e não têm exemplos políticos positivos, porque convivem desde cedo com a impunidade e a corrupção que partem de seus próprios governantes, haveriam de se calar? Foram à luta e despertaram a pátria, que aparentemente estava adormecida sobre as chuteiras.

    Istambul e São Paulo têm situações, cultura e problemas diferentes, mas acabaram ganhando um aliado em comum: a truculência da polícia e o descaso do governo, que deu força aos dois movimentos. A repressão policial ultrapassou fronteiras. A mídia online derrubou todas as barreiras. Hoje, as duas cidades estão unidas em um mesmo ideal: mudar o que não está correto, derrubar máscaras e exercer a democracia, sem violência, vandalismo ou depredações. Que os jovens turcos acampados na praça Taksim continuem servindo de exemplo para os brasileiros que começam a se mobilizar. Eles estão firmes e não arredam pé da praça até que suas reivindicações sejam atendidas. Que todos eles, os daqui e os de lá, exerçam seu papel legítimo e democrático de se manifestar sem se deixarem intimidar pela repressão policial. E que, acima de tudo, também impeçam a infiltração da violência em seus movimentos. Sabemos que todas as grandes mudanças exigem sacrifícios e que é preciso passar pelo caos, muitas vezes, para se atingir a iluminação. Fico realmente feliz que os brasileiros estejam acordando. Não sabemos exatamente como tudo isso irá acabar, mas estamos vivendo novamente um momento muito importante de nossa história e acho que já tem muita gente perdendo o sono…