A pandemia de coronavírus paralisou a economia mundial, mas a busca pela beleza não entrou em isolamento: as clínicas de cirurgia plástica registraram aumento de pacientes.
Segundo a American Society of Plastic Surgeons, a sociedade americana de cirurgiões plásticos, 55% dos profissionais do país contaram que as injeções de botox foram o tratamento mais procurado durante a quarentena, seguido pelas próteses para aumento dos seios (40%).
Outro dado curioso vem do Google Brasil: o termo rinoplastia (plástica no nariz) teve crescimento de 4.800% nas ferramentas de busca da plataforma, entre os meses de março e junho.
O cirurgião plástico Victor Cutait, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e professor na Universidade Nove de Julho, viu o movimento de sua clínica de estética em São Paulo crescer 60% durante os meses de isolamento (março a agosto).
Os procedimentos mais procurados foram os que melhoram a aparência do rosto e sinais de envelhecimento, como preenchimento e botox, rinoplastia e levantamento de pálpebras.
Para os cuidados com o corpo, os mais pedidos foram as próteses de silicone nos seios e lipoaspiração.
Ele diz que tem sido muito procurado por pessoas que sempre sonharam em fazer algum procedimento estético sem que nunca levassem isso adiante.
“O isolamento nos possibilitou muitas reflexões e trouxe à tona desejos deixados de lado, já que há a sensação de que a vida passa rápido demais para que não façamos o que temos vontade. E, para muitos, a cirurgia plástica está nesta lista”, diz Cutait.
Outro fator que movimentou esse mercado foi a possibilidade de atendimento de forma remota, facilitando o primeiro contato das pessoas com os especialistas.
REDES SOCIAIS X AUTOESTIMA
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A modelo Ana Paula Comparato exibe o corpão no Instagram |
Para o médico, estes números, não apenas indicam uma tendência de comportamento, como também abrem uma discussão mais ampla sobre autoimagem.
“Quando se sentem mais bonitas, as pessoas ficam mais motivadas a cuidar de si mesmas e têm menor chance de sofrer depressão”, afirma.
Entre os pacientes que chegam a seu consultório, o cirurgião constata a influência que as redes sociais exerceram durante a quarentena na autoestima à medida que se tornaram um meio simples de entretenimento.
“O Instagram sempre foi utilizado como ferramenta para ostentar uma vida de faz de conta e, além de fotos de comidas deliciosas e viagens inesquecíveis, também são publicadas imagens de corpos exuberantes, mas com ajuda de filtros que mostram uma falsa perfeição. Estas ferramentas estão distorcendo a maneira como as pessoas veem seus corpos e rostos, acentuando problemas de autoestima.”
O médico observa que por conta das redes muitas pessoas acabam se sentindo inferiores e não é raro um paciente chegar ao consultório pedindo para ter nariz ou seios parecidos aos de alguém que segue.
É uma situação cada vez mais presente na vida das pessoas. Um estudo da Royal Society for Public Health, do Reino Unido, de 2019, constatou que o Instagram é a rede social mais prejudicial à saúde mental dos usuários.
“Neste mar de imagens retocadas que mostra o dia a dia de pessoas aparentemente tão felizes, usuários comuns comparam suas vidas normais a situações inalcançáveis, incluindo corpos digitalmente modificados em perfis de atrizes, modelos, musas fitness e blogueiras”.
Portanto, alerta o cirurgião, antes de buscar um profissional para fazer um procedimento estético, é preciso ter em mente que existe uma limitação em relação à perfeição e que “dificilmente será possível ter a precisão de um filtro de uma rede social”.
Assim, antes de se submeter a uma cirurgia estética, é preciso ponderar sobre as razões de buscar determinado procedimento para ter certeza de que não existe “a expectativa de uma versão idealizada de beleza”.