NÃO ESTAMOS PREOCUPADOS COM O NÚMERO DE MANIFESTANTES NAS RUAS

  Muitas imagens das manifestações deste 16 de agosto continuam repercutindo no mundo. Os principais jornais internacionais deram destaque ao domingo ensolarado de inverno em que os brasileiros foram às ruas, pacificamente, e expressaram toda a sua indignação diante de uma crise sem perspectivas de resolução a curto prazo. Não há “acordão” que possa calar a boca de uma nação inteira.


Ao contrário das duas últimas manifestações, nesta a população mostrou estar mais focada, melhor informada e ciente de que é preciso passar o país a limpo – e a jato! No Rio a praia ficou mais vazia e a orla, forrada de pessoas. Em São Paulo, a avenida Paulista foi tomada por milhares de pessoas.

 O boneco inflado gigante de Lula, vestido de presidiário, que circulou em Brasília, virou meme na internet, foi alvo de fotomontagens hilárias (surgindo em capas de disco, filmes etc) e ganhou até conta no Twitter. Segundo a revista Época, a alegoria, de 12 metros, criada pelo grupo Movimento Maceió, foi encomendada a uma empresa de São Paulo e custou R$ 12 mil. O investimento repercutiu… 



  

Fotomontagem feita pelos internautas com o boneco


 Como escreveu nesta segunda (17) o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua mídia social, persiste o sentimento popular de que o governo, “embora legal, é ilegítimo”. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo.” Suas palavras também provocaram impacto. 

 Não importam os números, se as manifestações foram maiores ou menores em relação aos últimos movimentos. Esqueçam os índices dos institutos de pesquisa ou os oficiais, divulgados pela Polícia Militar. O que vale é o contexto, é ver uma grande parte da população dizendo basta a tudo que aí está e pedindo o fim da corrupção escandalosa gerada por um governo, que ultrapassou todos os limites de impunidade e de má gestão.





IMAGEM SIGNIFICATIVA






 O movimento seria valioso mesmo se tivesse reunido somente cinco ou dez pessoas em cada esquina dos estados brasileiros.E também já teria um profundo significado, caso apenas os poucos cidadãos de Garanhuns e região, terra natal de Lula, em Pernambuco, fossem os únicos a exibir uma faixa em que pediam desculpas, justiça e a prisão de seu filho mais ilustre.



 A foto, postada nas mídias sociais, circulou na internet durante a madrugada, mas desapareceu ao raiar do dia. Para mim, foi a imagem mais significativa entre as milhares mostradas pelas ruas.




 QUE GOLPE?

  
  O país amanheceu nesta segunda (17) um pouco mais aliviado depois do desabafo compartilhado nas ruas. Não vivemos só de festa ou Carnaval. Somos um povo alegre, sim. Mas estamos preocupados com o estrago feito na economia; com a recessão que hoje já afeta praticamente todos os setores; com o desemprego, os altos índices de inflação, a violência, a má administração do dinheiro público e os bilhões desviados em propinas, articuladas por um governo que pensou estar acima do bem e do mal, em um projeto de poder, que jamais seria desmontado. 
 Queremos nossa nação de volta, soberana, mais justa, sem essa corrupção absurda, arraigada na raiz, e livre de tanta lama. Não por acaso o juiz Sergio Moro, da operação Lava-Jato, é um dos personagens da atual cena política mais respeitados no país.
 Acredito que a maioria dos brasileiros (mesmo aqueles que não tenham vivido os anos de chumbo da ditadura militar) esteja defendendo qualquer tipo de golpe. A democracia foi uma árdua conquista e deve ser mantida. Isso foi deixado muito claro pela maioria que saiu às ruas. 
 Aliás, nunca a democracia foi tão bem exercida neste país, seja nas manifestações pacíficas, nas prisões da Lava-Jato ou na investigação dos escândalos, que dia a dia derrubam as máscaras, para mudar a história.

  O grande golpe acontece mesmo diariamente no bolso e na dignidade dos brasileiros!

TRIBUTO A LADY DI

 Um dos nomes mais lembrados pela mídia internacional neste 1º de julho foi o de Diana, a eterna princesa de Gales, que teve um casamento de conto de fadas, uma trajetória conturbada na realeza e morreu de forma trágica.

 Se ela estivesse viva, completaria 54 anos e, com certeza, seria uma das mamães mais orgulhosas do planeta pelos dois filhos e herdeiros da coroa britânica, os príncipes William e Harry, que trazem em seu DNA o carisma, a beleza e a simpatia da mãe. Com certeza, também seria a vovó mais elegante da Corte.


 Fico imaginando Lady Di corujando seus dois netos, os pequenos George e a recém-nascida Charlotte, também Diana no nome. Mas, essa jornada acabou interrompida, em 1996, no auge de sua fama e beleza. O mundo ficou de luto!



 Quanto mais o tempo passa, e tudo se transforma, menos Diana é esquecida. Ao contrário: parece estar em toda parte, como se administrasse de um palácio etéreo de cristal a família, o assédio da imprensa, os boatos sobre suas supostas aventuras amorosas, as inúmeras instituições e os países paupérrimos, que constantemente visitava, levando luz aos que estavam na escuridão.


 Sua presença continua marcante, mas agora de um jeito mais sutil, em um gigantesco álbum de fotos e memórias. É constantemente lembrada e homenageada pelos filhos, que postam quase que diariamente fotos da mãe em suas mídias sociais. A princesa tem várias páginas no Facebook.
 Diana nunca sai de cena em nossa lembrança.






Seus vestidos de gala exibidos nos grandes salões, as roupas casuais, os chiquérrimos acessórios e as poderosas jóias marcaram época e ainda inspiram milhares de pessoas mundo afora. O carisma, a postura, o caráter e a elegância de Lady Di não conseguem ser superados por ninguém, por mais que tentem. Ela pode servir de exemplo, mas não adianta querer imitá-la porque não existem sucessores nesse Reino, o universo particular da princesa de Gales.


 Há pessoas que nasceram para ser a estrela mais brilhante de toda uma constelação. Assim foi, é e para sempre será Lady Di.


 Uma grande mulher, linda por fora, mais bonita ainda por dentro, porque sua nobreza estava no coração!

VIRANDO O JOGO

POR SIMONE GALIB   


 A Copa do Mundo começa em meio a uma chuvarada de críticas, temores, greves e indignação. Mas precisamos juntar os cacos das nossas desilusões,
arejar a casa e receber bem os turistas. Esporte é alegria, é adrenalina, é
união. E o mundial, um grande evento. O restante? Decidimos nas urnas!

 

  Ando injuriada com
tudo o que vem acontecendo no Brasil e especialmente pela forma com que todos
começaram a criticar o país. São tantas notícias ruins em tempo integral, um descaso
total com os nossos problemas do dia a dia, que não são poucos, uma inabilidade
completa por parte dos governantes, que merecidamente perderam o respeito dos cidadãos,
milhares deles seus próprios eleitores, além da onda de greves que me parecem
totalmente oportunistas, embora as reivindicações das categorias sejam justas.
Sem contar com as mídias sociais, que viraram um gigante portal de
descontentamento, de desabafos e de piadas. Rimos e debochamos o tempo inteiro
da nossa própria desgraça. Falamos mal de nós mesmos. O brasileiro, famoso por
ser amável e cordial, está amargurado, cansado. Para onde caminhamos? Parece
que o país está navegando em direção a um iceberg, pronto para naufragar, ou se
mantém frente a um vulcão, que vai explodir a qualquer momento, com
consequências imprevisíveis.
 A Copa do Mundo, um
dos mais poderosos e cobiçados eventos esportivos do planeta, chegou a nossa
casa, mas continuamos desconfortáveis, incomodados, irritados. Mostramo-nos receosos
em vestir o verde-amarelo; estamos indignados com tamanho amadorismo e
indisciplina no país sede. Sentimos vergonha de mostrar ao mundo todas as
nossas feridas e do que possa a vir a acontecer no decorrer do campeonato. Muitos
chegam ao ponto de torcer para que a seleção brasileira perca o mundial para
não favorecer os políticos que, na minha opinião, devem ser julgados e
condenados nas urnas –e não nos estádios que, aliás, custaram uma

fortuna!
Esporte é alegria, é adrenalina, é união. Não pode ser jogado nesse caldeirão
de interesses escusos.

 O país do futebol
sente frio na barriga, insegurança, indignação, revolta, quer vestir luto e até
torce para que não venham muitos estrangeiros gastar seus dólares ou euros
aqui. Se estamos assim, como devem estar se sentindo os estrangeiros que já começam
a desembarcar? Fico imaginando o temor que lhes assola diante dessa avalanche
de desgraças, de crimes, de violências, da falta de serviços eficientes, das
obras inacabadas, veiculados pela mídia e particularmente pela internet, na
velocidade da luz. São aconselhados por suas embaixadas e pela própria Fifa a
tomarem cuidado com absolutamente tudo, afinal estarão visitando um país que exala
um clima de “guerra” urbana.

XÔ, BAIXO ASTRAL!
Essa energia de
desalento, de falta de perspectivas e de medo vai tomando conta de tudo. É um
baixo astral que contamina. Eu, particularmente, temo pela integridade física e
moral dos turistas e torcedores. E também torço antecipadamente para que não
sejam assaltados, assassinados, violentados e colocados em situações
constrangedoras, retornando aos seus países sãos e salvos. Explorados eles já
serão naturalmente, assim como nós o somos todos os dias, a partir do momento
em que saírem do avião, porque estarão pisando o solo do país com os preços e
os impostos mais extorsivos do mundo.
Não sou a favor da forma como o governo conduziu a
realização da Copa do Mundo: super faturamento, gastos excessivos e abusivos,
incompetência para gerenciar, realizar e concluir as obras, além da utilização
de recursos que poderiam ter sido utilizados para resolver os problemas do
país, que são milhares, entre outros fatores. Mas, quando foi anunciado, lá
atrás, que seríamos a sede houve comoção geral e explosão de alegria. Claro que
sabíamos que o quadro que vivemos hoje seria praticamente inevitável.
Conhecemos o país, afinal. Mesmo assim, comemoramos, nos alegramos. Tivemos
esperanças de dar um salto, de gerar empregos e de transformar o Brasil em uma
vitrine para o mundo, de forma positiva. Sonhamos e nos permitimos ser
enganados, mais uma vez.

BONS ANFITRIÕES

Além disso, a realização dos megaeventos esportivos, Copa e
Olimpíadas, em 2016, trouxe um fôlego novo. Investidores passaram a olhar para
o Brasil com maior interesse, marcas estrangeiras se apressaram em abrir
filiais aqui, a rede hoteleira começou a se aquecer, milhares de empresários e
profissionais se prepararam e uma infinidade de bons negócios se desenhou no
horizonte. Bem administrada e tratada com profissionalismo, a Copa do Mundo é,
sim, um excelente negócio. E o Brasil tem belezas e qualidades únicas. Por que
não explorar o que é bom, o que funciona, o que temos de melhor como fazem os
outros países? Por que não sermos anfitriões gentis e civilizados? Não gostamos
de nos sentir acolhidos e respeitados quando viajamos ao exterior?

 Portanto, não adianta
esbravejar, queimar a bandeira, organizar protestos, de quórum inexpressivo,
que só tumultuam a vida das pessoas e depredam o patrimônio público. É uma
atitude sem sentido, sem cidadania e sem educação, que interessa a poucos e
mostra a infantilidade de um povo que detona a sua própria casa na frente das
visitas. O que precisamos fazer é juntar os cacos de nossas desilusões,
respirar fundo e transformar toda essa energia negativa em alguns momentos de
alegria. Podemos comemorar o gol, sim, vibrar, torcer pela seleção brasileira, como
sempre fizemos exaustiva e festivamente à distância. O país está precisando de
mais alegria, dessa boa vibração. Afinal, todo o dinheiro já foi investido, não
será devolvido, a Copa do Mundo é uma realidade e as seleções e
os torcedores não têm culpa de nada. Guardemos os nossos grandes protestos, e
toda essa indignação, para outubro, a primavera das eleições, quando
legitimamente, e por intermédio das urnas, poderemos mandar de volta para a
casa todos esses políticos que nos roubaram a alegria, o orgulho de ser brasileiros
e dizer, de peito aberto e num coro cidadão: “Agora chega. O jogo acabou!

MURAL DAS LAMENTAÇÕES

  O Brasil está se tornando, dia após dia, um país de frustrações, de desilusão, de descrédito, do deboche – e isso pode ser aplicado em todas as instâncias. A postura do Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira foi mais um duro golpe em qualquer perspectiva de se acabar com a impunidade e a corrupção ou ao menos coibi-las. O ministro Celso de Mello que encerrou o seu voto com a aceitação dos embargos infringentes no julgamento do mensalão, garantindo uma maioria de seis votos pela retomada do julgamento de 12 réus nos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, provocou indignação nacional, embora estivesse agindo dentro da lei. Ele também deu a chance para alguns condenados, como José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil, de escaparem do regime fechado de prisão. Além de protelar mais ainda a resolução de um processo que já se arrastou mais do que devia no STF.
 Muita gente passou o dia acompanhando o pronunciamento do ministro, que durou duas horas, e no final houve um sentimento coletivo de desencanto e de vergonha. Mas o que aconteceu hoje no Brasil não tem nada de inédito, não causa espanto e era totalmente previsto. Celso de Mello já havia antecipado desde a semana passada o rumo de sua decisão o que, aliás, foi exaustivamente publicado pela mídia.
  Por que esse tamanho desencanto agora se nós já sabemos e sentimos duramente na pele que não podemos confiar na Justiça, até mesmo para resolver os problemas mais simples do nosso cotidiano? Por que tanto espanto se as leis e a indústria dos recursos foram feitas para entupir os tribunais e favorecer os poderosos? Isso acontece aqui diariamente, afeta nossas vidas, relacionamentos, empresas, empregos, famílias. E a impunidade percorre, com maestria, todos os poderes. A Justiça nacional enquanto instituição é uma carroça velha e emperrada há muito tempo. Aliás, isso parece fazer parte das nossas raízes. Então, por que tamanha ressaca cívica diante desses embargos infringentes? Alguém, em sã consciência, achava que eles não iriam encontrar uma brecha jurídica para ganhar tempo?  
  Claro que todos têm o direito de “desabafar” e hoje as mídias sociais viraram um grande mural de lamentações. Muitos manifestaram o seu luto e a indignação por meio de fotos, frases, compartilhamentos. Por outro lado, se tudo isso está acontecendo é porque nós mesmos permitimos. Será que, se as multidões tivessem se reunido em manifestações pacíficas, às vésperas do desfecho do julgamento do mensalão, o resultado teria sido realmente este? Hoje não era um ótimo dia de mobilização geral e de consciência política, praticadas não apenas nas redes sociais? O próprio STF já esperava por isso a ponto de ter reforçado a segurança. Mas os protestos foram pequenos diante da grande indignação manifestada.
 Por que a voz das ruas foi apagada tão facilmente de nossa memória, dando margem a manobras com a legitimidade da lei para perpetuar a impunidade? Motivados pelos jovens, os brasileiros viveram momentos inesquecíveis de protestos em junho e o governo tremeu nas bases, ficou acuado, votou emendas, abaixou tarifas de ônibus… A reação foi imediata. Essa oportunidade nos foi dada. Sim, porque o “grito das massas” -e não de pequenos grupos de vândalos – é uma poderosa arma contra os corruptos, aliás, a única que parece funcionar neste país. Mas a oportunidade também acabou perdida e a preciosa lição, não assimilada. Consciência política também é uma conquista.
 O gigante continua adormecido e os políticos estão cada vez mais acordados. Este, sim, é o verdadeiro luto verde e amarelo. Que pena!    


LUA E VÊNUS: ENCONTRO PODEROSO

  Havia um quadro muito especial no céu neste final de domingo: a conjunção de Vênus com a lua crescente, que começou ao entardecer e se estendeu até o início da noite. O fenômeno astrológico pôde ser observado a olho nu em várias cidades do mundo e do Brasil, inclusive em São Paulo, que teve um dia lindo, de céu claro e muito azul. Esse “encontro” virou o assunto predileto nas mídias sociais. E eu que estava caminhando pelas ruas do bairro, sem ter planejado nada, pude acompanhar todo o processo, do início ao fim. Começo a semana revigorada, guardando na lembrança este flash mágico! 

O BRASILEIRO ACORDA E GRITA NAS RUAS

Os gastos com a Copa foram uma das principais reivindicações nas ruas do país 
Paulistanos protestam na av. Paulista, um dos símbolos da cidade
Protestos contra a Copa nas areias de Copacabana, no Rio

TSUNAMI VERDE-AMARELO

O Brasil vive um momento único, histórico. A sensação é que um tsunami, cujas ondas são pessoas, avançou sobre as principais cidades do país, na velocidade da luz, e tirou todo mundo da zona de conforto.
O mundo parou para assistir, tão perplexo quanto nós, brasileiros, as cenas que estão por toda a parte. Jovens nas ruas, invasão de palácios governamentais, manifestações que surgem em lugares inusitados e que são amplamente divulgadas, especialmente nas mídias sociais. A imprensa tradicional tropeça. O governo está absolutamente perplexo e todos dias vamos dormir com a sensação de que não há absolutamente nada previsto para o dia seguinte.
Ninguém entende nada e não sabe o que vai acontecer no próximo minuto. Nunca vi tanta gente se manifestando, desabafando em praça pública, no Facebook, Twitter. Viramos a vitrine do mundo. Todas as feridas estão expostas e agora é tempo de curar os ossos e de tirar as máscaras. A lama surge de todo lugar. Não temos mais nada a esconder, mas muito o que mostrar. Diante de tanta incerteza, uma única certeza prevalece: nada mais será como antes a partir deste junho de 2013. E, apesar das milhares de análises de especialistas das mais diversas áreas, de comparações com outros períodos da história contemporânea, dos discursos de esquerda, de direita, sabemos que este momento é único e apartidário. É a alma brasileira sendo lavada, sem pudor. O gigante real emerge do mundo virtual. Sai o velho para entrar o novo. E esse movimento tem uma força extra, inexplicável que nada nem ninguém vai conseguir deter. Os jovens quebram todos os cordões de isolamento. E nós os seguimos, mesmo sem saber ainda para onde estamos indo. Mas é um caminho sem volta!

DÓI EM TODOS NÓS


    Na noite deste domingo, vários famosos também aderiram às manifestações e se mobilizaram nas redes sociais, pedindo mudanças para o Brasil. Utilizando as hashtags “muda Brasil” e “dói em todos nós”, Carmo Dalla Vecchia, Thaila Ayala, Yasmin Brunet e Fernanda Rodrigues, entre outros, postaram no Instagram fotos suas em que aparecem com o olho roxo em referência à repórter Giuliana Vallone, da Folha de S.Paulo, que foi atingida por uma bala de borracha enquanto cobria a manifestação em São Paulo. Essas imagens fazem parte do protesto fotográfico “Dói em Todos Nós”, do fotógrafo Yuri Sardenberg.
  Eles surgem na rede à véspera da quinta manifestação em São Paulo, marcada para esta segunda, às 17h, no largo da Batata, em Pinheiros. O movimento, iniciado pelo Passe Livre, vai ganhando vulto, adesões, discussões e apoio internacional. De fato, agora o Brasil definitivamente está na vitrine do mundo. E o mais inusitado: não é pelo futebol. 

Praça Taksim: hoje o centro das manifestações em Istambul 
A praça Taksim é um dos locais mais movimentados da cidade
Haghia Sophia, um dos cartões postais da cidade

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Os bancos da praça em frente à Mesquita Azul: ponto de encontro

ISTAMBUL E SÃO PAULO: UMA INUSITADA UNIÃO







por SIMONE GALIB

  Voltei recentemente de Istambul, a mais cosmopolita cidade da Turquia, onde passei 25 dias de férias. Não havia ali nada que denunciasse qualquer movimento político, nenhum cheiro de bomba de gás lacrimogêneo no ar, a polícia estava nos quartéis, as ruas forradas de turistas do mundo inteiro, que transitavam de um lado para o outro, felizes e seguros, e os jovens curtiam futebol, cafés, baladas, compras, namoros nas praças, absolutamente tranquilos. Aliás, quase não se via polícia nas ruas onde você pode trafegar tranquilamente sem medo de que sua bolsa, sua máquina fotográfica e seu celular sejam furtados a qualquer momento. Apesar de um trânsito pesado, de carros que transitam em mão dupla pelas ruas estreitas do centro antigo, a cidade é extremamente segura, limpa e organizada. O maior assédio, se é assim que posso dizer, parte dos comerciantes ou dos vendedores que sempre nos abordam tentando vender -a um preço sempre negociável – seus artigos originalmente made in Turkey, como os tapetes e lenços de seda, aliás, maravilhosos. Não se pode parar em frente a qualquer vitrine de uma loja que automaticamente você é convidado a entrar, tomar um “thai”, o tradicional chá turco e comprar, mas tudo sempre com muita gentileza e educação. Os turcos tratam muito bem os turistas, são simpáticos e atenciosos – não importa de onde você venha. Afinal, sabem que são eles alguns dos principais responsáveis por seus empregos e pela economia em ascensão do país. Eles também demonstram amar sua cidade e aproveitam todas as áreas livres, como a orla, parques e praças para encontrar amigos e fazer piquenique com a família. Sim, é prática comum ali abrir suas cestas nos canteiros (sempre floridos e bem cuidados), nos parques e até mesmo em uma ilhota no meio da avenida para fazer churrasco. São cenas cotidianas.

Esta foi a Istambul que encontrei, que me recebeu maravilhosamente bem e que me encantou, porque é, sim, uma cidade que acolhe e tem paisagens únicas, repletas de história, de aromas, de especiarias e de sabores inusitados.  Fiz amigos, conversei com muita gente, troquei ideias, informações, impressões. Não havia ali nada que denunciasse nenhum ativismo político, depredações ao patrimônio público -ao contrário, ele é excessivamente bem preservado – rebeldia juvenil ou até mesmo insatisfação com o governo do premiê Recep Tayyp Erdogan. Mesmo com uma população predominantemente muçulmana, os jovens parecem não se submeter a costumes rígidos, quer seja no vestuário ou no comportamento. Istambul -no final do inverno e começo desta primavera- aparentemente respirava liberdade. Mas os jovens turcos estavam insatisfeitos e foram às ruas para impedir que as árvores de um parque em Taksim fossem derrubadas para a construção de um shopping center. A princípio, achei normal porque vi o quanto eles usufruem de suas belas áreas verdes. Natural defendê-las. Depois, entendi: os jovens turcos estavam sendo porta-vozes de uma população descontente com suas condições salariais, com o custo de vida, que é infinitamente menor que o nosso, e principalmente pela ameaça da implantação do conservadorismo religioso. A polícia partiu para cima com violência. O governo, pego de surpresa, evitou a negociação, mas diante da série de protestos e da repercussão internacional precisou voltar atrás. O presidente pediu desculpas. Mas os jovens não arredaram pé e o movimento começou a crescer. Em menos de um mês eu via, pelos jornais e internet, uma cidade totalmente diferente e cuja paisagem seria inconcebível para mim, porque a mudança foi rápida, radical e na velocidade da luz! 

MUDANÇA DOS VENTOS

 Se eu já estava surpresa com o que havia acontecido em Istambul, fiquei muito mais ainda com o que vi na última semana em São Paulo. Se os jovens turcos inspiraram os brasileiros? Não se pode afirmar com convicção, mas acredito que tenham jogado o fósforo: se brigavam contra a derrubada de árvores do parque, por que aqui onde temos milhões de motivos mais sérios, nada acontecia? Se em Istambul, onde o turismo faz a festa, o comércio nunca fecha e os jovens começam desde cedo a trabalhar, sem folga, e não são assassinados em assaltos, havia um nó preso na garganta e um grito de alerta por um  mundo melhor, por que aqui onde eles não conseguem trabalho, perdem amigos, pais e familiares vítimas da violência, enfrentam um péssimo transporte coletivo, uma educação deficitária, um sistema de saúde desumano e não têm exemplos políticos positivos, porque convivem desde cedo com a impunidade e a corrupção que partem de seus próprios governantes, haveriam de se calar? Foram à luta e despertaram a pátria, que aparentemente estava adormecida sobre as chuteiras.

    Istambul e São Paulo têm situações, cultura e problemas diferentes, mas acabaram ganhando um aliado em comum: a truculência da polícia e o descaso do governo, que deu força aos dois movimentos. A repressão policial ultrapassou fronteiras. A mídia online derrubou todas as barreiras. Hoje, as duas cidades estão unidas em um mesmo ideal: mudar o que não está correto, derrubar máscaras e exercer a democracia, sem violência, vandalismo ou depredações. Que os jovens turcos acampados na praça Taksim continuem servindo de exemplo para os brasileiros que começam a se mobilizar. Eles estão firmes e não arredam pé da praça até que suas reivindicações sejam atendidas. Que todos eles, os daqui e os de lá, exerçam seu papel legítimo e democrático de se manifestar sem se deixarem intimidar pela repressão policial. E que, acima de tudo, também impeçam a infiltração da violência em seus movimentos. Sabemos que todas as grandes mudanças exigem sacrifícios e que é preciso passar pelo caos, muitas vezes, para se atingir a iluminação. Fico realmente feliz que os brasileiros estejam acordando. Não sabemos exatamente como tudo isso irá acabar, mas estamos vivendo novamente um momento muito importante de nossa história e acho que já tem muita gente perdendo o sono…