Isaac Azar no novo Paris 6 Vaudeville, que abriu em junho, na rua Haddock Lobo, a 70 m da matriz |
mas abriu um bistrô, o Paris 6, nos Jardins, que faz o maior sucesso em São
Paulo, a cidade mais gourmet do país – com 52 tipos diferentes de cozinha -,
funciona 24 horas e é frequentado por gente bonita, famosa, descolada,
jogadores de futebol, como Neymar Jr, muitos artistas, boa parte deles amigos
do dono da casa, que os homenageia com seus nomes no cardápio, além de turistas
de outros estados do Brasil. A receita
deu tão certo, que o Paris 6 já começa a ganhar ares de rede. Azar inaugurou,
há um ano, uma filial, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que vive lotada e
boa parte dos seus 250 lugares são ocupados pela classe artística carioca, o
que transformou a casa em “uma espécie de sucursal do Projac, a cidade
cenográfica da Globo”, como ele mesmo
define. Em junho último, foi ainda mais ousado: inaugurou o Paris 6 Vaudeville,
na mesma rua Haddock Lobo, a apenas 70 metros da matriz paulista, também aberto
dia e noite, para tentar aliviar as três horas de filas de espera. Porém, ele
quer mais. E já se prepara para exportar o conceito mundo afora.
O Paris 6, na Barra da Tijuca: 250 lugares e “sucursal” do Projac divulgação |
relacionado, cercado de amigos e de sócios famosos, amado por muitos e desprezado
por outros, especialmente por alguns críticos gastronômicos, Isaac Azar aprendeu
a lidar com a polêmica e com os dois lados da fama, apostando na fórmula que
lhe garantiu sucesso em um disputadíssimo mercado: a divulgação da cultura brasileira, seja no
cinema, no teatro ou nas artes plásticas, o que acabou criando uma espécie de cumplicidade
com atores, cineastas e astros da MPB, que ali são mais que meros clientes.
Seus nomes e fotos estão estampados no menu, com 200 opções, entre entradas,
lanches, petiscos, pratos principais e sobremesas.
experimentar os Escargots Bourguignons a
Milton Nascimento, os Tartines de
Chévre ET Tomates Au Memorable a Luciano do Valle, o Risotto de Morue a Fernando Meirelles ou o Carré de Bouef a Ivete Sangalo, entre muitos outros. Para o craque
Neymar, houve também uma criação especial. Isaac o brindou com uma porção de
100 gramas do mais nobre presunto cru espanhol em homenagem ao Barcelona, time
do jogador. O nome do prato? Pata Negra a
L´Huile D´Olive a Neymar Jr.
A atriz Paloma Bernardi, que ganhou uma sobremesa com seu nome no cardápio do bistrô divulgação |
está sempre presente nesse cardápio. Nas paredes, com décor, inspiração,
iluminação e parte do menu franceses, há quadros de pintores, cartazes de
cinema, peças de teatro –tudo made in
Brazil. “O Paris 6 não é simplesmente um restaurante, mais sim um passeio,
um entretenimento. Mais de 20% dos clientes vêm de outros estados. Além da
comida, as pessoas degustam cultura”, orgulha-se. Indagado se os artistas e
amigos têm privilégios, é categórico: “Não atraio ninguém oferecendo comida de
graça. Ele paga como qualquer outro cliente, exceto quando faço parceria com
alguma peça de teatro e tenho cerca de R$ 10 mil em ingressos para distribuir
nas mídias sociais. É uma maneira de fomentar a cultura”, conclui.
nome Paris 6? A inspiração vem do 6º arrondissement,
o distrito no centro de Paris, entre os bairros de Saint-Germain-des-Prés e
Notre-Dame-des-Champs, que tem uma das maiores concentrações de cafés, de bistrôs
e de brasseries. Aliás, esse centro cultural parisiense era frequentado, no
início do século, por nomes, como o pintor Pablo Picasso, o escritor
norte-americano Ernest Hermingway e o filósofo e crítico francês Jean-Paul
Sartre, entre tantos outros. Um lugar cheio de história e de muita gente famosa!
“Se Wood Allen fala dos artistas [no filme Meia-Noite
em Paris], eu também exponho quadros, homenageio Emílio Santiago, José
Wilker, o amigo Jair Rodrigues (morto em maio último e cujo grand menu deste ano foi dedicado a sua
memória) e Luciano do Valle, que também era frequentador assíduo”, diz ele,
relembrando cenas históricas entre os salões. “Gustavo Rosa pintou no próprio
restaurante, entre taças de vinho, e Maurício de Souza desenhou um prato para
Jair Rodrigues com o personagem Cebolinha”. Apesar de tanta brasilidade, gente
de fora também bateu ponto por lá, como Liza Minelli que no aniversário de seis
anos da casa, em 2012, foi jantar depois do show em São Paulo e acabou dando
uma canja, para surpresa de todos.
Com o amigo e craque Neymar Jr fotos divulgação |
O ator Henri Castelli, o jogador Daniel Alves e Murilo Rosa |
Murilo Rosa (sócio de Isaac na filial de Orlando) e Caio Castro |
polonesa, Isaac Azar, 43 anos, é o caçula dos quatro irmãos homens, todos
praticamente com a mesma faixa etária. Ele trabalhava com a família no ramo de
concessionária de veículos e foi o primeiro a tentar voo solo, em 2003, optando
por atuar no setor alimentício. Começou a importar azeite de oliva, o que lhe
exigiu um profundo mergulho nas raízes. “Eu adoro história e vi no azeite um
produto, comum e sagrado, para o judaísmo, para o cristianismo e para o
islamismo”, diz. Azar viajou boa parte do mundo, pesquisando o produto que
tanto o fascinava. Em 2004, tornou-se o primeiro brasileiro especializado em
azeite, graduado pela renomada Organizzazione Nazionale Assggiatori Olio di Oliva,
na Itália.
ano, abriu o Azäit, também nos Jardins, onde fazia harmonização de pratos com
azeite. Não deu muito certo e fechou a casa. O Paris 6, hoje com oito anos de história,
estava ainda em início de jornada.“ Não consegui dar conta das propriedades
pela diferença de conceitos”, afirma. Em 2007, ele assumiu o cargo de chef do
menu da TAM, em que elaborava pratos à base de azeite de oliva. Essa fase do
azeite durou até 2008. Já a ideia de levar o Paris 6 para o Rio não foi exatamente
sua, conta, mas estimulada pelos próprios artistas, como o ator Bruno
Gagliasso, o primeiro, logo no início da casa, que ganhou um prato com seu nome
no cardápio. Não demorou muito para que Isaac Azar formasse o seu time carioca:
além do próprio Bruno, o diretor Jayme Monjardin, o atacante Emerson Sheik e o
jogador Paulinho, da seleção brasileira, dividem a sociedade, com toda a gestão
feita pelo próprio empresário. A casa já tem fila de espera todos os dias.
ancestrais o ponto de partida para se dedicar à gastronomia, a base cultural veio
de uma outra fonte: a herança genética da mãe, segundo ele, a sua “grande
inspiração desde a infância”. O empresário conta que ela é erudita, adora
música clássica, desenha, pinta, toca piano, ensinou-lhe vários hobbies, como a
pintura, e lhe emprestou muitos livros para que formatasse o conceito do Paris
6. A receita funcionou. Hoje, a sobremesa clássica da casa, o Grand Gateau au Popsicle a Paloma Bernardi
– um gateau recheado de morangos,
calda de Nutella e um picolé de chocolate italiano – vende mais de 15 mil
unidades por mês no eixo Rio-São Paulo.
administrar e um celular que não para nunca de tocar, como é a rotina de Isaac?
“Trabalho 24 horas, além das quatro linhas”, diz ele, referindo-se ao futebol. Pai
de três filhos – duas meninas, de 10 e 12 anos e um bebê de nove meses – ele
atribui toda a sua base à mulher Caroline, diretora financeira do Paris 6, com
quem está casado há 13 anos e é quem lhe dá a tranquilidade suficiente para
administrar o salão, a cozinha, a família e as mídias sociais. Somente o
Instagram da casa tem cerca de 194 mil seguidores, ganhando do Mc Donalds, com
174 mil, e ele o monitora pessoalmente.
ponto de apoio é o renomado psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Flávio
Gikovate (o preferido dos poderosos), com quem faz duas sessões semanais “para
ponderar meus exageros e me guiar em decisões importantes”. Isaac se define
como um homem muito ansioso, estourado e diz ter melhorado muito nos últimos
nove anos. “Esse sucesso todo não seria possível sem Gikovate e Caroline. Ela é
o ponto de equilíbrio de toda minha realização pessoal e profissional.”
Cardápio estrelado Simone Galib |
cultura brasileira contemporânea no exterior. Ele vai inaugurar, em dezembro,
outra filial, desta vez em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos, tendo como
sócio o ator Murilo Rosa. O conceito será exatamente o mesmo do Brasil, ou
seja, base francesa e histórias, cartazes de peças e fotos de artistas
brasileiros estampados nas paredes . Entre os seus planos, também está a
abertura de restaurantes em Miami, Nova York, Londres e eventualmente em Dubai,
nos Emirados Árabes. “Quero mostrar ao mundo que o Brasil tem cinema, teatro e
produções de altíssima qualidade.”
Isaac Azar no Paris 6 da Haddock Lobo, onde tudo começou |
Apesar de todo esse sucesso, o bistrô costuma receber algumas farpas
da mídia especializada e de alguns chefs, alegando que o lugar não é barato e o
cardápio tem muito pouco de gastronomia francesa. Para Isaac Azar, as críticas
refletem opiniões subjetivas. “Não cozinho somente para uma pessoa, ou o
crítico gastronômico, mas para 40 mil, que frequentam o Paris 6 em São
Paulo e no Rio. Gosto de ser julgado pelo meu público”, rebate. Aliás, nesse
quesito Isaac Azar vai muito bem, obrigado!
*Conteúdo também publicado na última edição de Viagens S/A Edição 30